Hoje acordei com uma inquietação daquelas. Vejamos o motivo de tudo isso a partir de uma simples equação que, para muitos de nós, parece de fácil compreensão: Teoria + prática = Práxis. Estará correta esta afirmação assim colocada?
No nosso campo de construção de saberes profissionais, parece-me bem que essa relação/equação necessita de outros ingredientes que a permeiem para que ela se assevere correta. Vale salientar, antes de continuar com o raciocínio, que este nosso campo não é o único em que tal fato acontece, nem aquele onde essa particularidade é mais acentuada.
Formar o professor não pode ser resultando de um amontoado de teorias sobre como o ser humano aprende, como ele se comporta diante de situações/problemas, mas é também o produto de uma prática efetiva dessas teorias. "Na relação dialógica, a troca de opiniões e
experiências contribui para a elaboração de novos conhecimentos. A teoria, com
efeito, surge a partir da prática, é elaborada em função da prática, e sua
verdade é verificada pela própria prática" (PICONEZ, 2002, p.29), mas não devemos esquecer que a recíproca também é verdadeira. E o que isto pode querer significar para a nossa formação?
Teorizar pressupõe, de imediato, abstração, permanecer no campo das ideias que, por sua vez, nada mais são que imagens projetadas na nossa imaginação: "mais tarde vou ministrar uma aula sobre aprendizagem significativa, que os alunos pediram" - porém, apesar de toda a minha boa vontade, como desenvolver essa atividade se não estiver preparado para colocá-la em prática?
Prática, no meu modo de ver, não é apenas aquela ação mecânica desenvolvida enquanto o pensamento pode, por vezes, estar alhures, ou mesmo se centrado naquela atividade, não estar sendo permanentemente questionado e criticado. Quando esta prática automatizada acontece deve ser chamada de alienação. Considerando as fortes inter-relações que existem entre estas duas categorias fácil se chega à conclusão que se uma dentre elas é alienante, a outra segue-lhe os passos.
O professor é, por excelência, não só um auxiliar na construção de novos conhecimentos para aqueles que buscam seu auxílio, como também deve ser formador de opinião, não só pela sua teorização, mas e principalmente por sua prática. Se esse profissional não estiver formado para assumir uma postura crítica diante de um conteúdo que necessita conhecer não estará pronto a desenvolver teorizações que o projetem dentro do seu fazer profissional. Com isso, a qualidade da educação que desejamos seja elevada não passará do nível de influência alienante a que o profissional estiver submisso.
Posso agora refletir mais conscientemente sobre a minha inquietação: Teoria + Prática só são igual a uma Práxis quando a criticidade está contida em pelo menos um dos elementos da equação.
PICONEZ, Stela C. Bertholo (Coord.).A prática de ensino e o estágio supervisionado: a aproximação da realidade escolar e a prática dareflexão. IN: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes [et all]; PICONEZ, Stela C. Bertholo (Coord.). A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas-SP: Papirus, 1991.